No dia 15 de abril, quando se comemora o Dia Nacional da Conservação do Solo, a Embrapa Solos realizou um seminário no Rio de Janeiro que contou com a participação de pesquisadores da unidade e professores convidados da Universidade Federal Fluminense (UFF). Na abertura do encontro, Daniel Vidal Pérez, chefe geral da Embrapa Solos, chamou a atenção para a importância da conservação do solo e os riscos que a degradação desse recurso natural vital traz para a segurança alimentar, para a biodiversidade e para o clima do planeta.

“Nos últimos dez, anos temos visto um forte trabalho da ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, na questão da conservação do solo, por que talvez seja um dos maiores riscos que a nossa civilização esteja passando atualmente. O solo sempre foi a origem da vida, e boa parte da nossa comida ainda vem do solo, e ele tem sido degradado ao longo do tempo”, destacou Pérez.

Ele salientou os números da FAO sobre a situação atual dos solos no planeta: cerca de 33% dos solos agrícolas do mundo estão num estágio de degradação entre moderada e forte. “Essa é uma situação muito importante, por que temos que agir cada vez mais num ambiente também de mudanças climáticas, o que traz novos desafios para os trabalhos de conservação”, complementou.

Ana Paula Turetta, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade, apresentou um breve histórico da conservação do solo no Brasil, mostrando os diversos problemas gerados pelo aumento da intensidade do uso ao longo dos anos e a evolução das soluções que o setor produtivo e a pesquisa agropecuária desenvolveram a partir dos anos 1960 até os dias atuais.

“Hoje temos os mapeamentos, que nos ajudam muito a melhor planejar e definir o uso das terras, e o aumento na adoção de práticas como o Sistema Plantio Direto (SPD) e o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Há uma expectativa da sociedade para que se produza alimentos e se faça o uso agrícola de uma forma cada vez mais responsável e sustentável. Nosso centro de pesquisa tem total inserção nesses temas, há bastante tempo, sempre pensando em gerar esse conhecimento de solos com foco na geração de valor para a sociedade”, salientou.

Durante o encontro, o pesquisador Guilherme Donagemma fez um panorama sobre as principais pesquisas e ações em andamento na Embrapa Solos no tema preservação e conservação de solos. Dentre os projetos liderados pela Unidade, foram comentados o Módulo IS_Agro (busca soluções digitais para criação, estimativa e divulgação de indicadores agro-socioambientais brasileiros), a Construção Participativa do Plano Nacional de Gestão Sustentável do Solo e Água (irá propor um plano  considerando as especificidades das regiões e biomas para estabelecer diretrizes e estratégias para conter o avanço da degradação dos recursos solo e água), a parceria com Itaipu Binacional (está desenvolvendo um mapeamento digital de solos e de atributos físico-hídricos dos solos das bacias dos rios sul-mato-grossenses Iguatemi, Amambai e Ivinhema) e o GeoABC Reinsertec (tem foco em tecnologias avançadas para a avaliação e recomendação técnica visando à recuperação e à reinserção de áreas degradadas às cadeias de produção agropecuária).

Também foram citados o projeto internacional Soil ES , que está avaliando serviços ecossistêmicos na região do Matopiba – é composta pelos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, e o GuardeÁgua, que busca aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano.

Donagemma ainda deu detalhes de um projeto sobre pastagens degradadas, em parceria com Embrapa Gado de Leite, Embrapa Agrobiologia e UFF e financiado pela Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), que desenvolve indicadores de qualidade do solo e de forragem em pastagens sob diferentes níveis de degradação no Médio Vale Paraíba do Sul, e de um projeto da Rede ILPF, coordenado pela Embrapa Gado de Leite, que estuda ILPF na região de Mar de Morros do Sudeste brasileiro em busca de alternativa para utilização intensiva e sustentável das terras de relevo montanhoso sob influência da Mata Atlântica.

Outros projetos de conservação do solo

Os professores da UFF Roberson Machado Pimentel e Mohammad Al Abed apresentaram no seminário detalhes de algumas pesquisas que vêm desenvolvendo na temática. Pimentel discorreu sobre o efeito da associação de bactérias Azospirillum e adubação fosfatada no estabelecimento do capim-mombaça . No seu trabalho, disse que é evidente que o uso de fontes de fósforo é importante em solos tropicais a fim de garantir a produção de grãos. Ele também concluiu que o uso de Azospirillum brasilense em grama mombaça no capim não afeta o estabelecimento do pasto na parte aérea, mas esses resultados precisam ser investigados depois do estabelecimento, na fase da manutenção das plantas. ”O uso do Azospirillum brasilense traz melhores resultados promovendo o crescimento das raízes durante o estabelecimento do capim-mombaça somente quando está associado com um fertilizante de fósforo”, concluiu.

Al Abed, por sua vez, mostrou um inventário da degradação da terra na costa do Rio de Janeiro usando técnicas de geomática. Originalmente, o professor trabalha no Centro Árabe para estudos de zonas áridas e terras secas (ACSAD), instituição fundada em 1968, em Damasco, na Síria. É uma organização especializada em trabalhar no âmbito da Liga de Estados Árabes (LAS) procurando unificar estudos nacionais para desenvolver esforços para o desenvolvimento de trocas de informações nas regiões áridas e semiáridas e desenvolver pesquisas agrícolas científicas em áreas áridas e semiáridas, além de trocar informações e expertise de maneira que mantenha um caminho que assegure benefícios dos avanços científicos e transferindo, e desenvolvendo técnicas modernas de agricultura a fim de aumentar a produção agrícola nessas áreas.

 

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