O cenário macroeconômico e as condições climáticas, com chuvas acima da média e seca em várias regiões, impactaram o desempenho de diversos setores de construção. Em outubro, as vendas de cimento, por exemplo, tiveram queda de 2,3% em relação ao mesmo mês de 2022, atingindo 5,3 milhões de toneladas comercializadas, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
O acumulado do ano (janeiro a outubro) registrou um total de 52,1 milhões de toneladas vendidas, queda de 2,1% comparado ao mesmo período do ano passado. Ao se analisar o despacho do insumo por dia útil nota-se um recuo de 4,2%sobre o mesmo mês do ano passado, ou seja, comercialização de 228,6 mil toneladas por dia em outubro de 2023.
Impactos na venda de cimentos e no setor de construção
A taxa de juros elevada durante todo o ano, muito embora tenha registrado cortes desde agosto, afetou negativamente o consumo das famílias e o financiamento de imóveis. O endividamento da população continua em nível elevado (47,8%). A renda e a massa salarial real apresentaram crescimento, porém o rendimento dos trabalhadores ainda está estagnado, desde 2019.
Na construção, a queda na confiança interrompeu a alta dos últimos três meses. O pessimismo foi disseminado em quase todos os setores. No setor de infraestrutura, o número de obra continua baixo, sinalizando que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda não decolou como esperado. A falta de mão de obra qualificada é outro item que trouxe pessimismo ao setor de construção.
As vendas de materiais de construção no varejo já acumulam perdas de 2,2% de janeiro a setembro de 2023. Os lançamentos imobiliários vêm acompanhando essa tendência, com queda de 15,8% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2022. Já as vendas imobiliárias caíram 5,3% na mesma base de dados. Esse movimento faz com que o estoque de obras diminua e consequentemente piora a perspectiva de vendas de cimento.
Os números de financiamento imobiliários para construção apresentaram redução de 42,9% no acumulado até setembro de 2023 com relação ao mesmo período de 2022, reflexo da alta taxa de juros e da baixa renda da população.
Por outro lado, o Marco Legal das Garantias sancionado pelo governo deve estimular o crédito imobiliário e reduzir juros ao permitir que um bem seja usado para assegurar mais de um empréstimo. Além disso, o STF autorizou bancos e instituições financeiras a retomarem imóveis financiados, em caso de inadimplência, sem precisar acionar o judiciário. As novas regras trazem alterações que podem contribuir para a redução dos custos de operações financeiras, propiciando mais previsibilidade nos processos extrajudiciais e, por consequência, mais segurança ao mercado.