A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou para 3% a sua previsão de crescimento econômico do setor de construão para 2024. No fim de março, a entidade já havia elevado de 1,3% para 2,3% seu prognóstico para alta da construção para o período. O índice fica acima das previsões de 2,15% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para este ano.

Entre as razões para a nova análise estão:

  • A projeção positiva para o crescimento da economia brasileira no ano, de 1,85% no final de março de 2024 para 2,15%, conforme relatório Focus;
  • A resiliência do mercado de trabalho nacional, com mais de 1 de milhão de novas vagas com carteira assinada criadas no País até o fim de maio;
  • O incremento mais forte do financiamento imobiliário com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); e
  • As expectativas mais positivas dos empresários da construção (verificadas na Sondagem Indústria da Construção de julho) para novos lançamentos imobiliários, para maior geração de emprego e para compra de insumos.

“Quanto maior for o mercado nacional, melhoram as expectativas para novas aquisições de casas próprias, porque o trabalhador precisa de estabilidade para fazer o seu financiamento imobiliário. Da mesma forma, a boa perspectiva econômica e a previsibilidade das condições de investimento permitem ao empresário planejar e assumir riscos”, definiu Renato Correia, presidente da CBIC.

Os empresários do setor também estão com expectativas positivas para o nível de atividades. Entre os fatores apontados estão a queda da taxa de juros (apesar do patamar ainda elevado), as boas projeções para as novas medidas do programa Minha Casa, Minha Vida e a expectativa em torno do Programa de Aceleração do Crescimento, assim como o incremento da projeção da economia brasileira. Os dados fazem parte da Sondagem Indústria da Construção.

Custo da construção 

A construção civil permanece com os custos pressionados desde a pandemia de covid-19. De janeiro de 2020 até junho 2024, o Índice Nacional da Construção Civil, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (INCC/FGV) aumentou 44,02%, enquanto a inflação oficial do país cresceu 30,47%. Somente o custo com material apresentou incremento de 60,28%. Ou seja, o setor enfrenta um patamar alto de custos em insumos e mão de obra, comprimindo margens de ganho na atividade há anos.

A CBIC destaca que esse aumento dos custos acima da inflação se reflete também desde a entrada em vigor do Plano Real, há 30 anos. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE) aumentou 582,91% no período, o INCC/FGV subiu 960,63% no período, ou 64,79% de altas de custos acima da inflação ao longo de três décadas.

Financiamento via FGTS 

O financiamento para obras de construção civil – em especial de habitação – depende fortemente do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e do FGTS. No monitoramento da movimentação dessas duas fontes de recursos, a CBIC verificou que o SBPE teve dois meses de captação líquida positiva por dois meses consecutivos, em maio e junho, o que não acontecia há quase três anos – desde junho e julho de 2021.

Entretanto, houve perda de recursos na caderneta de poupança: a captação líquida continuou registrando resultados negativos no 1º semestre deste ano. A principal razão é que os juros altos continuam prejudicando o rendimento da poupança e, por consequência, sua atratividade.

Ainda assim, os financiamentos com recursos do SBPE alcançaram R$ 82,127 bilhões no semestre, ou seja, alta de 7,04% em relação a igual período do ano 2023 (R$ 76,728).

Já os financiamentos imobiliários com recursos do FGTS totalizaram R$ 67,202 bilhões nos primeiros seis meses do ano – uma alta de 75,31% em relação a igual período do ano anterior (R$ 38,334 bilhões). Apesar de ainda menor em volume, o financiamento imobiliário com recursos do FGTS apresentou crescimento percentual superior ao SBPE.

O número de unidades financiadas com recursos do FGTS também superou, de janeiro a junho de 2024, o do SBPE, que apresentou retração de 5,11%, ao passar de 261.092, nos primeiros seis meses de 2023, para 247.740 em iguais meses de 2024. Com recursos do FGTS, o número de unidades financiadas foi 40,95% maior, passando de 220.459 de janeiro a junho de 23 para 310.729 no período equivalente de 2024.

O financiamento imobiliário, com recursos do FGTS, para imóveis novos alcançou, no 1º semestre de 2024, R$ 50,764 bilhões, o que correspondeu a uma alta de 67,35% em relação a iguais meses de 2023 (R$ 30.334 bilhões).

Já o número de imóveis usados financiados usados cresceu 109,75%, ao passar de R$ 7,837 bilhões nos primeiros seis meses de 2023 para R$ 16,438 bilhões em iguais meses de 2024.

Importante ressaltar que, em 2022, do valor total financiado no 1º semestre (R$ 25,420 bilhões), 92,66% ou seja, R$ 23,553 bilhões, corresponderam a imóveis novos enquanto os imóveis usados representavam 7,34 % (R$ 1,867 bilhão).

Em 2024, do valor total financiado no 1º semestre (R$ 67,202 bilhões), 75,54% foram destinados a imóveis novos (R$ 50,764 bilhões) e 24,46% (R$ 16,438 bilhões) foram de imóveis usados.

Em números absolutos, o financiamento imobiliário para imóveis novos totalizou, no 1º semestre de 2024, 211.499 unidades, o que correspondeu a uma alta de 27,92% em relação a igual período de 2023 (165.340 unidades).

Já o número de imóveis usados financiados cresceu 83,02% ao passar de 54.217 de janeiro a junho de 2023, para 99.230 nos primeiros seus meses de 2024.

A CBIC ressalta que, em 2022, do número total de unidades financiadas no 1º semestre, de 172.082, 154.813 unidades corresponderam a imóveis novos, ou 89,96%, enquanto os imóveis usados representavam 10,04 % (17.269 unidades). Em 2024, do total de 310.729 unidades financiadas no 1º semestre, 68,07% foram imóveis novos (211.499) e 31,93% (99.230) foram de imóveis usados.

“Esse é um ponto que a gente tem comentado ao longo do ano. O FGTS deve ser aplicado majoritariamente nos imóveis novos pela geração de emprego que promovem e pelo desembolso mais gradual que se faz durante a produção dos empreendimentos. Pelo contrário, à medida em que você pega um recurso do FGTS e financia o imóvel usado, você tem um saque imediato, porque o imóvel já está pronto, e você tem uma geração de emprego menor, quase ínfima, que vai alimentar menos o FGTS do que um novo. Então, a gente tem pedido para que seja revista essa métrica, para que a gente possa gerar mais emprego e ter um FGTS mais sustentável”, lembrou Correia.

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