A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou a projeção de crescimento do setor para 2024, elevando a expectativa de 3% para 3,5%. Os fatores positivos que motivaram essa revisão incluem o aquecimento do mercado de trabalho, o bom desempenho da área imobiliária de padrão econômico e a expectativa de crescimento mais robusto da economia neste ano e início do próximo.
“O setor vem em um ciclo virtuoso de crescimento. O saldo de novas vagas geradas continua positivo e os empresários mantém expectativas otimistas para o nível de atividade nos próximos seis meses. Diante desses fatores, é possível que o crescimento supere o inicialmente previsto”, afirma o presidente da CBIC, Renato Correia.
No entanto, a a câmara alerta para obstáculos a esse crescimento em função das perspectivas de novos aumentos na taxa de juros, que podem deprimir a intenção de investimentos. Além disso, é preciso considerar a pressão sobre a disponibilidade de recursos do crédito imobiliário.
“Esses fatores podem influenciar o resultado da construção nos próximos meses e provocar um desempenho abaixo do esperado, mesmo diante dos atuais indicadores positivos. O cenário futuro está marcado por incertezas, o que pode comprometer os resultados no final de 2024 e início de 2025”, alerta Correia.
A economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, ressalta que a entidade já havia revisado anteriormente a sua projeção de crescimento para 2024. “No final do ano de 2023 estimamos incremento de 2,3% para as atividades do setor. Em julho alteramos para 3% em função dos bons resultados dos primeiros meses do ano. Agora, novamente aumentamos a nossa projeção. Os resultados do segundo trimestre foram mais positivos, o que acabou, então, influenciado a nova projeção”, destaca. “A nova estimativa de 3,5% supera as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que está em 3,05%, segundo o relatório Focus, de 18 de outubro, emitido pelo Banco Central”, completa.
3º trimestre
A Sondagem da Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o apoio da CBIC, mostra que o nível médio de atividade no setor no 3º trimestre de 2024 foi superior ao do mesmo período em 2023 e que a confiança do empresário da construção cresceu. O resultado positivo se deve à melhoria das avaliações deles em relação às condições atuais e às expectativas para o futuro próximo.
“Essa alta da confiança se dá muito por conta das expectativas, que estão bastante positivas com relação aos próximos seis meses, enquanto a avaliação das condições atuais, que vinha negativa, passou para um patamar de neutralidade, demonstrando que não houve piora no desempenho das empresas e da economia, na avaliação dos empresários”, afirma Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI.
Desafios para o crescimento
Após a análise do 3º trimestre, os Indicadores Econômicos Nacionais da CBIC apresentam como principais desafios para o setor:
- Carga tributária elevada: a alta carga tributária continua sendo um problema significativo para o setor, especialmente com a expectativa de reformas que podem não atender às necessidades da construção;
- Falta de mão de obra qualificada: a escassez de trabalhadores qualificados dificulta o crescimento e a produtividade do setor;
- Taxas de juros elevadas: aumento dos juros restringe o acesso ao crédito, impactando o financiamento de projetos e a compra de imóveis;
- Disponibilidade de recursos do FGTS e caderneta de poupança: a redução da captação líquida da poupança, devido à alta da taxa Selic, afeta negativamente o financiamento imobiliário;
- Custo da construção: os custos de materiais e mão de obra continuam subindo, pressionando as margens de lucro.
Demanda de insumos
Outros indicadores mostram que a produção de materiais de construção cresceu 4,3% entre janeiro e agosto de 2024 em comparação ao ano anterior, e o faturamento da indústria de materiais aumentou 10,3% em setembro. O mercado imobiliário também registrou alta, com crescimento de 5,7% nos lançamentos no primeiro semestre de 2024 e 15,24% nas vendas.
Ieda Vasconcelos apontou uma tendência de alta nos custos de construção. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) já subiu 5,48% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, enquanto a inflação oficial do País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 4,42% no mesmo período. “Ou seja, o custo de construção está acima da inflação do país”, enfatizou a economista.
Nos últimos 12 meses, o número de trabalhadores formais na construção civil cresceu 5,24%, com 2,961 milhões de trabalhadores com carteira assinada em agosto de 2024, o maior número desde 2014. Desde 2021, o setor vem criando mais de 210 mil novos empregos formais entre janeiro e agosto de cada ano. O setor representa 6,27% do total de trabalhadores formais no Brasil, mas responde por mais de 12% das novas vagas criadas e é o terceiro com maior salário de admissão.
A demanda aquecida por trabalhadores tem gerado uma elevação nos salários e a componente ‘mão de obra’ dentro do INCC subiu 7,7% nos últimos 12 meses, pressionando os custos setoriais. Além disso, os custos dos materiais de construção voltaram a subir nos últimos meses, configurando uma tendência de alta, apontou ieda Vasconcelos.
Ao longo de 2023, os materiais vinham mostrando deflação, mas essa tendência se reverteu, e esses itens passaram a subir rapidamente desde março, chegando a 3,89% nos últimos 12 meses. “O custo com material vem registrando aceleração e volta a preocupar o setor construtor”, disse a economista da CBIC e do Sindicato da Indústria da Construção de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
Impacto no preço da moradia
Correia, presidente da CBIC, alertou que quem for comprar um imóvel novo vai se deparar com preços maiores ao longo dos próximos meses, situação que reflete a escalada nos custos das obras. “A situação vai gerar o repasse de custo maior para o preço dos imóveis. Quem for comprar a casa própria vai encontrar preços maiores. Não tem jeito, as empresas têm que preservar as margens de lucro”, disse o executivo.
Ele acrescentou que incorporadoras enfrentam dificuldades em obter financiamento para clientes na entrega das chaves, devido aos juros altos e à falta de recursos. Ele propôs a liberação parcial dos depósitos compulsórios bancários para crédito imobiliário, o que ajudaria a aliviar o cenário até uma possível queda dos juros.
Essa sugestão, apoiada por entidades do setor como Abrainc e Secovi, busca reduzir o custo do crédito diante do aumento dos custos de captação pelos bancos, agravado pela saída de recursos das cadernetas de poupança.