O Sistema de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) incorpora a partir deste mês de março um procedimento inédito para garantir uma identificação mais eficaz de riscos de contaminação da carne por microrganismos no abate de frangos de corte.

Trata-se do monitoramento microbiológico do desempenho higiênico-sanitário do processo de abate, com indicadores de limites para a Enterobacteriaceae, bactéria encontrada no trato gastrointestinal dos animais. Essas bactérias são consideradas um importante indicador da qualidade higiênico-sanitária do processo de abate e como indicador potencial da presença ou ausência de Salmonella spp , uma das principais causas da condenação das carcaças nos frigoríficos.

O novo procedimento foi oficializado pela Portaria SDA/MAPA Nº 1.023 , publicada no dia 29 de fevereiro, e abrange abatedouros frigoríficos registrados no SIF, vinculado ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária (Dipoa) do Mapa.

“É mais um avanço no trabalho de revisão e modernização do abate em frigoríficos”, comemora Luizinho Caron, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e líder do projeto “Revisão e modernização do Sistema de Inspeção Federal de abatedouros de aves”, em andamento desde 2016. “A partir da aplicação desse procedimento, os frigoríficos têm como avaliar efetivamente o risco que o seu processo apresenta à saúde. Outra vantagem é que, com base nessa avaliação, será possível identificar os lotes de produção com problemas e agir com medidas específicas no seu sistema de abate”, explica.

Perdas atingem cerca de 6% das carcaças

No processo de abate, carcaças de frangos com alterações ou contaminações atingem aproximadamente 5,99% das aves abatidas, as quais são destinadas à produção de produtos não comestíveis. A condenação tem base na avaliação do animal “ante” e “post mortem”, mediante alterações em características físicas, que classificam a carcaça como condenada parcial ou total, sendo 85% e 15% do total de condenação.

Segundo pesquisadores da Embrapa, as principais causas de condenações registradas pelo SIF durante o abate de frangos são as contaminações gastrointestinais, com 26,2%. Depois, vem as condenações por lesões traumáticas (24,8%) e lesões de pele inespecíficas (13,3%). Outras causas respondem por 35,7%.

Nos frigoríficos brasileiros, as partes contaminadas são refiladas pelo Serviço de Inspeção, seguida da remoção da contaminação visível no Ponto Crítico de Controle. “O nosso trabalho avaliou a eficácia do processo de refile sobre a contagem de Enterebacteriaceae”, relatou Caron, acrescentando que mais um destaque desse trabalho é que “a partir da aplicação desses procedimentos, os frigoríficos poderão ter diminuição na condenação de carcaças por avaliar efetivamente o que apresenta risco à saúde”.

A definição dos limites considerados para essa avaliação foi feita a partir de um trabalho em abatedouros da Região Sul do Brasil, onde pesquisadores da Embrapa, Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal  (Dipoa) e universidades públicas realizaram coleta de dados e estiveram presentes nas linhas de abate. Com base nos dados coletados e a definição preliminar dos limites, a equipe do Mapa realizou pilotos em diversos frigoríficos no Brasil validando os limites. Essa validação culminou na publicação da Portaria 1023 e que será efetivada nos frigoríficos.

O projeto e suas contribuições

O projeto de “Revisão e Modernização do Sistema de Inspeção Federal – SIF” foi uma demanda do Dipoa/Mapa ainda em 2016 e envolveu parceiros como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto Federal Catarinense – Campus Concórdia (IFC-Concórdia), Universidade de São Paulo (USP) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai- Chapecó).

O objetivo é colocar em prática um modelo de inspeção baseada em risco para avaliar sua eficácia com base na análise de carcaças para detecção de Salmonella spp . “Este gênero de bactérias é o principal causador de doenças transmitidas por alimentos no Brasil e outros países, sendo também uma importante causa de notificações de inconformidades da carne “in natura” de frango brasileiro na Europa e Japão”, destaca Caron.

A equipe do projeto atuou também em outras frentes, como na elaboração de uma Nota Técnica que corrobora a inocuidade para à saúde pública das miopatias e a possibilidade de aproveitamento de graus iniciais da alteração, bem como se oferece uma forma de classificação das alterações. A nota técnica serviu de base para a um ofício-circular do Dipoa (OFÍCIO-CIRCULAR Nº 17/2019/CGI/DIPOA/SDA/MAPA – 13/12/2019 – Definição e classificação de miopatias para fins de aplicação do artigo 175 do Decreto 9.013, de 29/03/2017).

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