Pesquisadores compararam um modelo independente de medição de emissões de gases de efeito estufa com aqueles utilizados pelos inventários nacionais a fim de definir se os resultados estão de acordo com as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Para os cientistas, a avaliação é fundamental na garantia da robustez dos dados que guiam as políticas de redução das emissões e ajudam a aperfeiçoar os modelos já existentes.
Segundo Bárbara Zimbres, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e uma das autoras do estudo, não existe uma forma “absolutamente correta” de medição, mas várias formas de se aproximar dos dados mais precisos possíveis. A comparação das metodologias, nesse sentido, assegura que o campo de pesquisa caminhe no sentido correto.
“Temos diferenças na metodologia porque todos os modelos têm abordagens diversas, que tentam melhorar continuamente, para captar a realidade das emissões da melhor maneira. É vantajoso que a gente compare esses resultados porque, convergindo ou não, podemos confirmar que estamos aperfeiçoando nosso trabalho de captação dos processos e de suas magnitudes”, explica.
Modelo próprio independente
Para contabilizar as diferenças entre métodos, o grupo criou um modelo próprio independente, o Global Earth Observation (EO), que leva em consideração todas as emissões relacionadas às mudanças no uso do solo com base em imagens do satélite Landsat. O modelo foi então comparado com dados publicados pelos inventários globais de Brasil, Indonésia e Malásia.
Inventários nacionais são mecanismos utilizados como base de dados na criação de políticas públicas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Seus resultados são coletados a partir de metodologias predeterminadas e são fundamentais para as metas e o planejamento ambiental de um governo.
Transparência nos dados de emissões
No Brasil, os resultados encontrados pelo EO foram semelhantes aos publicados pelo inventário nacional das emissões, com uma diferença de 1 bilhão de toneladas nos dados do período entre 2001 e 2021, considerada pequena pelos pesquisadores diante da escala que soma dados em bilhões de toneladas a cada ano. O artigo destaca que a proximidade se deve, principalmente, à transparência do sistema brasileiro, que permitiu a identificação das diferenças e a reconciliação dos resultados.
O inventário nacional também foi comparado aos dados obtidos pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), desenvolvido pelo IPAM em parceria com a rede Observatório do Clima. Os resultados apontaram diferenças causadas, principalmente, pela vegetação secundária, que não entra nas contas dos inventários nacionais.
A avaliação foi publicada no artigo “Atenção à lacuna: reconciliar as estimativas de fluxo de carbono em florestas tropicais provenientes da observação da Terra e dos relatórios nacionais requer transparência”, assinado por pesquisadores de oito instituições do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa, e publicado na editora científica BioMed Central.