O desmatamento para abertura de pastagens e lavouras no Brasil foi responsável por 97% das emissões relacionadas à produção de alimentos entre 1990 e 2021, o que significa cerca de 32 bilhões de toneladas. Os dados foram divulgados pelo SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa) no estudo “Estimativa de emissões de gases de efeito estufa dos sistemas alimentares”.

O documento também aponta que as mudanças no uso da terra e das florestas causadas pela produção de alimentos reponderam pela emissão de 33,7 bilhões de toneladas de CO2. O desmatamento associado à produção de carne bovina, sozinho, registrou 92% das emissões do período e, em 2021, chegou à marca de 976 milhões de toneladas de CO2 liberadas na atmosfera, contribuindo para o aumento de 23% das emissões registradas naquele ano.

Se o rebanho brasileiro fosse um país, ele teria a sexta maior população do mundo, ocuparia uma área semelhante ao Irã e emitiria mais CO2 que o Japão. Segundo Bárbara Zimbres, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e uma das autoras do estudo, grandes áreas têm sido abertas na Amazônia para acomodar o crescente rebanho brasileiro.

“O mais importante agora é o combate ao desmatamento e sua maior força motriz, a grilagem. Esses processos, associados a grandes taxas de desmatamento e grandes níveis de estoque de carbono, fazem com que a Amazônia seja o bioma que contribui com as maiores emissões nessas cadeias”, alerta.

Publicado em novembro, o relatório é uma produção de instituições que integram o Observatório do Clima. Pesquisadores do IPAM foram responsáveis por mapear o COemitido a partir de mudanças no uso do solo relacionadas, principalmente, ao desmatamento, às queimadas da vegetação e às emissões de carbono orgânico do solo após a conversão para áreas agrícolas ou pastagem.

“Ao estimar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) para cada uma das etapas produtivas e quais são os principais produtos ou atividades emissores dentro delas, pode-se orientar estratégias de mitigação, contribuindo com o objetivo de reduzir a intensidade de emissão final desses produtos, tornando-os menos impactantes pelo viés climático, gerando sistemas produtivos menos emissores e mais eficientes”, escrevem os pesquisadores no relatório.

As emissões decorrentes da mudança do uso do solo nos sistemas alimentares foram maiores na Amazônia, responsável por 92% das emissões do setor em 2021. Além disso, a abertura acelerada de novas áreas de pastagens no Cerrado, que aumentaram 532% da sua área, elevaram as emissões do bioma para 66 milhões de toneladas.

Agropecuária

Em razão do tamanho do rebanho brasileiro e das suas pastagens, a cadeia bovina em sua totalidade foi a que mais contribuiu para as emissões dos sistemas alimentares em 2021, com 1,4 bilhões de toneladas emitidas. A mudança do uso do solo, na forma de desmatamento para a abertura de pastagens, responde pela maior parte das emissões do setor, seguida pelas emissões do próprio rebanho e das pastagens degradadas.

Mesmo com a cobertura nativa apropriada para as pastagens de baixo carbono, o Pampa aumentou suas emissões relacionadas à cadeia de carne em 556% no último ano. O plantio de lavouras temporárias – com safras curtas de até um ano – sobre áreas de vegetação nativa florestais no bioma também causou um aumento nas emissões.

“No Brasil, a maior parte da área desmatada vira pastagem, e isso puxa para cima as emissões associadas à cadeia da carne bovina. No entanto, tem sim práticas que podem ser adotadas em fazendas produtoras de gado visando incrementar a produtividade e até mesmo promover a remoção de carbono no solo em pastagens bem manejadas. Essas práticas, combinadas com uma política séria de combate ao desmatamento em todos os biomas, conforme prometido pelo governo, tem muito a contribuir para reduzir os impactos climáticos da produção de alimentos e commodities agrícolas”, completa Bárbara.

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